[…] Nossa Filosofia Espiritualista, filha das Forças Superiores, sua joia predileta, que a nós foi confiada para sua divulgação na Terra, deve ser divulgada, deve ser explanada, deve ser respeitada e obedecida por aqueles que na Terra se dizem seus instrumentos, e o devem ser de fato […]
- Luiz Alves Thomaz

Luíz Alves Thomaz - Por Antonio Cottas - primeira parte

Contamos hoje ... anos que a inolvidável Alma de Luiz Alves Thomaz deixou o convívio entre os mortais, para ascender ao seu mundo de luz e amor e viver entre os imortais.
Entre os imortais!...

Ali tudo deve ser diferente do que se vê neste mundo, onde o espírito desce contrafeito, porque vem sofrer e sabe que precisa sofrer para o seu próprio bem e do dos outros.

Espíritos há que vem à Terra para, neste presídio e algemados à matéria que constitui o seu corpo físico, lapidarem a negrura que ainda lhes ofusca o brilho, repararem enfim as faltas cometidas noutras existências; mas há também alguns que não tendo propriamente faltas a resgatar, têm grandes encargos sobre o desenvolvimento moral, espiritual e até material e intelectual das massas, do povo, da humanidade em geral.

É sobre estes espíritos que pesa a boa ou má condução duma raça ou de um povo, e por isso sofrem eles muito, mas muito mais do que os outros, que apenas encarnam para evoluir ou depurar-se.

Luiz Alves Thomaz é daqueles que não vieram para responder por determinado povo ou raça, mas, sim, por todos os povos e raças, por todos os encarnados e desencarnados quedados neste mundo; portanto, tornou-se imortal entre os que pensam e vivem neste planeta, como imortal já o era entre aqueles que hoje o circundam com a luz resplandecente do seu mundo.

Essa grande alma, meus amigos, fez vários estágios neste mundo, e, desde remotas eras, exerceu posições de destaque entre os homens. Por certo, antes e depois de Jesus, e com Jesus, esteve sempre ao serviço de causas justas, mas nem de todas as passagens pela Terra poude sair-se bem dos seus encargos, já pela perversão dos homens, meio ambiente em que era forçado a encarnar, já pela falta de preceptores esclarecidos.

Mas, a 4 de agosto de 1871, poude reaparecer neste mundo, saindo fisicamente das entranhas duma mãe humilde mas honesta e valorosa. Serviram-lhe de pais nesta última encarnação a Sra. D. Maria Diniz Alves Tomaz e o Sr. Luís Alves Tomaz, duas criaturas rústicas, mas possuidoras de caráter impoluto. Nesse lar humilde, mas puro de sentimentos, viu-se crescer, e chegando a menino com o seu caráter caldeado na forja da moral de seus queridos pais, começou a despertar em si o amor pelo trabalho, o desejo de progredir pelo esforço próprio e achando acanhado demais o meio em que vivia, concebeu a idéia de transportar-se para um campo de maior ação, e este seria fora do seu Portugal, mas entre gente ligada pela tradição, raça e espiritualidade a Portugal.

O que a inteligência do menino Luiz ainda desconhecia, sabia-o e sentia-o de sobra o seu espírito, e pedindo aos seus pais para vir para o Brasil e estes anuindo, começava ele a dar desempenho aos encargos morais e materiais para que veio a este planeta.


Aos 14 anos estava Luiz Thomaz no Brasil, em Santos, e aqui se fez homem e se tornou negociante respeitável, fundando a firma Thomaz, Irmão &Cia., uma das mais importantes daquele tempo e da qual ainda hoje há reminiscências.


De negociante chegou a capitalista, proprietário e fazendeiro, crescendo sempre a sua fortuna, à custa do seu labor honrado, e jamais com um real que a outrem pertencesse: o trabalho, a economia, o método, a disciplina, o respeito ao alheio e o bem querer a seu próximo constituíam a sua imaculada divisa de homem honrado.

Aos 40 anos, possuindo fortuna material, podendo viver no fausto, não alterou os seus hábitos de homem bom e simples.


Sentindo-se adoentado e os médicos consultados não acertando com a causa do mal que o entristecia, dominado por certa nostalgia espiritual, começou a pensar em si, na fortuna e na humanidade!


Pode-se dizer: Luiz Thomaz não tinha religião. Por convenção social, assistia às chamadas missas de corpo presente ou por alma de A ou B, mas por convicção religiosa não frequentava igrejas nem festas religiosas, respeitava a crença dos outros qualquer que ela fosse, e cuidava unicamente dos seus deveres morais e materiais. Era bom filho, dedicado irmão, foi bom tio, protegendo sempre seus sobrinhos, era dedicadíssimo amigo, e foi exemplar marido, enaltecendo sempre a sua querida esposa, cujo nome pronunciava sempre com respeito e carinho, embora não fosse homem de pieguices, e sim austero, grave, severo.


Desiludido, pois, dos tratamentos médicos que vinha fazendo, chegou com Luiz de Mattos e outros ao Espiritismo, tratou-se e curou-se, mas ainda não estava satisfeito, a nostalgia permanecia embora o físico tivesse melhorado.


Com a frequência às sessões foi vindo a luz ao seu espírito e como que despertando de um sonho, começa a compreender a vida por um outro prisma, o foro íntimo acusa-o de que ainda não havia feito nada do que precisava fazer e para o que veio encarnar; as sessões passam a ser feitas em prédio seu mudando-se, portanto, o Centro; estuda conjuntamente com Luiz de Mattos a Doutrina Espírita, vem e sentem que ela é a Verdade prometida por Cristo, tornando-se ambos dois grandes amigos, recebem ordens de Jesus, vindas por mensageiros seus, e que desde há muito esperavam por esse feliz encontro, e eis Luiz Thomaz, não o fanático, mas o convicto, o crente na verdade, na vida fora da matéria, a sentir-se confortado, animado, encorajado para novos empreendimentos, para os quais veio encarnar e soube viver e morrer fisicamente, pois, espiritualmente ele viverá eternamente encarnado na sua majestosa obra, passando à posteridade, de geração em geração, com todo o brilho de sua luminosa alma, refletido para todo sempre no Centro Redentor.


Nele só, não! Nele, por ser a Casa Mater do Racionalismo Cristão, fundada por Luiz Thomaz, mas a grandeza dessa alma raiará por toda parte desde a maior a mais humilde Casa Racionalista!


Ele e Luiz de Mattos fundiram-se num só querer para o Bem! Eles são as duas possantes colunas que sustêm o magnificente monumento da Verdade! Se um é a coluna mestra dos Princípios, o outro é a coluna mestra do Patrimônio!
Luiz Thomaz!

Tu que vieste encarnar num lar humilde, para poderes um dia chegar aonde era preciso, serás sempre e sempre o símbolo da honra e do trabalho, com que havemos de procurar saber apresentar-te àqueles que se transviam da honra e do dever!

E não só esses, mas às crianças e jovens que nos forem ouvindo e compreendendo! Aos pais destes caberá também ajudar-nos na pintura do teu quadro moral, para que, sabendo apresentar-te aos seus entes queridos, primem estes pelo amor à verdade, cultivem somente a virtude.


Entre ti e Luiz de Mattos não havia chefe nem subordinado, ambos éreis iguais na construção desta Obra – O Racionalismo Cristão, entretanto, tomava Luiz de Mattos por chefe e sabias, nas coisas que dizem respeito à Doutrina, obedecer como se fosses um humilde servo.


Tome-te a humanidade, e nós que dela fazemos parte, também como modelo de quem soube obedecer à razão, ao bom senso, à verdade, enfim.


Nas Casas Racionalistas, nenhum dos seus servidores seja insubordinado. É regra geral, hoje, entre os homens falhos de princípios construtivos, olhar aquele que é chefe como um inimigo, e toda a disciplina como uma injusta abdicação, toda ordem como um atentado à liberdade, e o menor conselho como uma ofensa. Aqui, porém, não pode haver insubordinados: nesta casa todos sabem obedecer, porque todos sabem ser livres e antes de a ela chegarem a dar o seu esforço pessoal, reformaram e continuam reformando os vícios da educação. Todos se movem pela ideia firme de bem fazer, imitando, tanto quanto possível, Luiz Thomaz no espírito de obediência. E homem livre é aquele que obedece por bom senso e reflexão, que compreendeu que assim deve ser. Não é nem adulador nem insubordinado.


Luiz Thomaz era dos que julgava que é mais difícil governar bem do que obedecer bem.


Obedeçamos, pois, à vontade e o querer de Luiz Thomaz! Cumpramos fielmente as suas ordens, o seu querer, e este o vemos gravado numa existência de sacrifícios, de abnegações, de amor à Verdade, á Doutrina do meigo Nazareno, Jesus, o Cristo! Bem sabemos que para seguir as regras do bem viver, é preciso primeiro modificar o instinto, nossos desejos mal cabidos, convertendo o Eu da lei inferior, brutal, má, desumana, à Lei Superior, doce, cordial, humana, enfim.


Nossa violência natural, os instintos malévolos e ferozes, precisa receber como contrapeso a fibra fraterna e justa, que cada um possui e que é necessário tocar, vibrar.


O ódio e a malignidade não são a verdadeira natureza do homem: são um desvio e uma corrupção de nosso caráter profundo. Vede o ódio agir num homem. Não o torna feio? Horrendo? É acaso esse o seu aspecto? Não lhe imprime ele em seu rosto um traço de dor? Odiar é sofrer, consumir-se, doer-se. O ódio é o inimigo figadal daquele que odeia: ele o destrói.


É, pois, o amor que a todos nos faz viver. Amar é despertar para a verdadeira vida, é seguir a natureza superior, cumprir sua função.


Pelo ódio e pelos sentimentos baixos, egoístas, de vil e desprezível gozo pessoal, o homem se degrada. Sua verdadeira natureza se altera e se perde. Ele desce ao posto de escravo.


Pelo amor, bondade, beneficência, sentimentos fraternais, pacíficos, generosos, o homem se purifica, se enobrece, se liberta!


O ódio e todas as baixas paixões de brutalidade e cupidez, a ambição malsã e o interesse mesquinho, são para a alma humana uma espécie de prisão em que ela se enlanguesce, enferma, se vivia, e contrai por fim o desprezo e o desgosto da vida.


- Mas, como livrarmos da prisão, como sair da estreita masmorra em que nos retém as tendências inferiores de nossa natureza? Como chegar à vida de que a força central e o elemento é o amor?


Procurando à semelhança desse que, nesta hora, retemos espiritualmente entre nós, cumprir o nosso dever. E o dever cumpre-se-o onde se é chamado a estar: Na família, na sociedade, nas corporações militares ou civis, em todas as classes e profissões, e todas elas nobilitam as criaturas, por mais humildes que possam ser, desde que estejamos capacitados de que no desempenho do nosso trabalho estamos colaborando na obra do Todo, portanto, cumprindo nosso dever.


Luiz Thomaz! Teremos nós cumprido o nosso dever para contigo?


É de crer que se estivesses de posse do teu corpo nos dissesses: Não!


Que nos dissesses verdades duras, causticantes, e com razão, como tantas vezes te as ouvimos proferir!


Cinco anos decorridos da tua ascendência espiritual e, na verdade, a tua Doutrina está no mesmo marasmo: curar corpos, desobsedar almas! Isso é insignificante para a finalidade da tua obra!


Trabalhaste como um mouro, arruinaste o teu físico, na criação e defesa dum patrimônio que desse para levar a todos os recantos do planeta a sublimidade dos ensinamentos cristãos! Mas a maldade humana, a ignorância de alguns e a perversidade de muitos, trabalhou sempre para que os grandes feitos não vingassem. Contigo não puderam. Mas desde que partiste tudo se movimentou para por entraves a tua obra. Felizmente, escapou a tua querida esposa e não se deixou confundir o nosso grande amigo, Dr. Emir Nunes de Oliveira, e só depois que partiste pudeste ver claro a pureza dos sentimentos deste homem, que nunca foi um ganhador na Ciência do Direito, mas um defensor incondicional daqueles que tem direito.


Cinco anos de lutas para tua esposa! Cinco anos de gastos e sacrifícios, que olhando para o teu passado de labor e economia, tem-me torturado a alma!


Continuo peiado, oh! Grande Luiz Thomaz, para fazer o que é preciso e que seria a tua vontade já estivesse feito! Mas quando nos vires triste, desce até nós, esparge seus fluidos benéficos sobre as almas daqueles que te respeitam e amam a verdade, a tua Doutrina!


Encoraja-os! Eles hão de, antes de partir para os seus mundos ou para junto de ti, deixar as coisas nos seus devidos lugares, de modo que os vindouros possam ser mais felizes do que nós!


De pé, meus senhores, para irradiar a essa Alma, desde que nesta atitude é que se pode demonstrar respeito a alguém.


LUIZ ALVES THOMAZ
Por Antonio do Nascimento Cottas – Parte I 

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